EDITORIAL
Doi:l 10.21901/2448-3060/self-2016.vol01.0001

 

Self- Revista do Instituto Junguiano de São Paulo

 

 

Vivemos na era da informação. É muito difícil ser um bom leitor de sua própria era, do momento histórico e evolutivo que se está vivendo. O que nos cabe e o que nos é dado é a possibilidade de criarmos narrativas da experiência de estarmos vivos, sermos pessoas humanas e nos relacionarmos com outras pessoas humanas e com o mundo, tanto o mundo externo das coisas materiais, quanto o mundo interno das vivências subjetivas. Essa experiência vital - o fenômeno humano, que chamamos de psique, de alma, ou ainda de outros nomes que sempre de algum modo chegam ao caráter simbólico e desconhecido daquilo que percebemos que somos - é gerada, desde sua natureza mais profunda e ancestral, pelos conteúdos do inconsciente coletivo, e, ao longo da vida, é revestida e preenchida pelas vivências pessoais das quais a consciência é simultaneamente vítima e protagonista. Do confronto e da integração dessas forças psíquicas -consciência e inconsciente - somos forjados como indivíduos, processo a que Carl G. Jung chamou de individuação, ou seja, tornar-se si-mesmo, ou Self, um indivíduo natural que se reconheça, seja lá o que este si-mesmo venha a se revelar como ser, indivíduo e pessoa. Assim, como consequência inevitável, a psicologia analítica se apresenta como uma disciplina cultural cuja valorização da diversidade está no coração da sua identidade.

Self é uma revista que se destina a divulgar o pensamento junguiano, primeiramente para pares e sob a revisão de pares, mas também, e não menos cuidadosamente, para toda pessoa que se disponha a compreender as ideias de Jung e todas as linhas de pensamento que se originaram a partir delas.

A escolha do formato da revista em sistema de publicação contínua online revisita os tempos do herói Gilgamesh, na antiga Suméria, quando da invenção da escrita: voltamos a escrever na pedra: o que é publicado na internet, com raras exceções, se é que elas existem, nunca mais dela sairá. Isso aumenta muito a responsabilidade e o compromisso tanto com a atitude visceralmente introvertida de elaborar um corpo de pensamento e escrevê-lo, quanto com a atitude corajosamente extrovertida de torná-lo público.

Trabalhos originais poderão ser publicados em português, inglês ou espanhol como primeira língua. Também faz parte do espírito da era o modelo de livre acesso ao conteúdo da revista visando à democratização do acesso ao conhecimento. O IJUSP sente que cumpre seu papel social ao lhe dar nutrientes para nascer e viver seus primeiros anos.

Aqui, a sensação, por meio dos sentidos, pode tentar se apropriar da evidência e construir uma perspectiva matemática da realidade. Aqui, a intuição pode andar ao redor dos significados simbólicos, permitindo que eles se ampliem e se dignifiquem na constatação de que a singularidade de cada pessoa é aquilo qu e faz com que nos sintamos próximos do sagrado e da imagem de Deus, seja ela qual for. Aqui, o pensamento pode por em operação os modos racionais de ver o mundo, discriminando a crítica afetiva que vem de dentro de qualquer corpo de pensamento, daquela inútil, porque destrutiva, que combate o que não conhece. Aqui, o sentimento e a empatia permitem que cada um deixe seu legado, uma reflexão, um opus, um fruto da energia psíquica que todo autor, generosamente, doa à humanidade, presente e futura. Aqui, cada pessoa pode procurar respostas para os dilemas da existência, sob uma perspectiva que acolhe a diversidade e com isso aceita o indivíduo em sua singularidade, motivando-o a fazer parte da vida de outras pessoas. Potenciais autores são assim muito bem -vindos.

A meta única da revista é contribuir de algum modo para um mundo melhor. E seus idealizadores creem firmemente que isso é possível: que é possível pessoas e um mundo mais harmônicos e menos dissociados; um mundo no qual o acesso à informação e à educação venha a ser cada vez mais facultado a todos. Um mundo no qual avanços tecnológicos e melhoramento humano possam caminhar lado a lado com mais amor e empatia nas relações, e maior equilíbrio na distribuição dos recursos. Um mundo em que símbolos e evidências sejam tão valorizados quanto aquilo que fazemos deles. Um mundo, enfim, no qual possamos todos encontrar experiência de significado e esperança.

Boa leitura a todos!

 

Ricardo Pires de Souza

Editor científico