A existência segundo Fernando Pessoa:
"Ninguém vê senão a alma em que ermo habita"
DOI:
https://doi.org/10.21901/2448-3060/self-2018.vol03.0008Resumo
Este trabalho busca demonstrar o paralelo existente entre as ideias junguianas de si-mesmo, de função religiosa e numinoso e a angústia existencial na escrita de Fernando Pessoa. Dentro desse escopo, um aspecto na obra e vida de Pessoa merece olhar analítico: o enfrentamento do vazio existencial - o medo profundo diante da ideia da morte e da completa ausência de significado intrínseco que o mundo natural apresenta, aí incluído, para o poeta, o mundo social humano onde ele se sente eternamente deslocado. Essa é a motivação maior da sua vida e a marca universal da sua obra: a angústia existencial presente em todas as suas personalidades literárias e heterônimos, principalmente o Pessoa "ele-mesmo" ou ortônimo, resultando na Poesia, tida como valor supremo e imagem de Deus. De fato, terror e fascinação caracterizam toda imagem, ideia ou experiência de Deus, fundamento da função religiosa descrita por Jung em sua teoria do inconsciente, fenômeno que ele chama de numinoso. Na teoria junguiana, essa função é psicologicamente representada pelo arquétipo do Self ou si-mesmo, simultaneamente centro e totalidade da experiência psíquica humana, responsável tanto pela geração quanto pela contenção da angústia existencial que nos acomete quando confrontamos nossos dilemas narrativos fundamentais: vida e morte, existência e não-existência, materialidade e imaterialidade, determinismo e indeterminismo, acaso e finalidade. Assim, o fator Self é o responsável por todos os mitos e religiões desde que começamos a sepultar nossos mortos. Individualmente, no fazer imaginativo pessoano, o Self ocupou o lugar do sagrado sob a forma da Poesia.
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