Reflexões sobre o conflito entre religião e homossexualidade
DOI:
https://doi.org/10.21901/2448-3060/self-2020.vol05.0010Palavras-chave:
psicologia da religião, homossexualidade, mitologia, psicologia junguianaResumo
Este artigo investiga alguns aspectos psicológicos que influenciaram o conflito entre homossexualidade e religião ao longo da história, tendo a psicologia analítica de C. G. Jung como referência teórica principal. Essa questão é relevante, pois a presente divisão ideológica no Brasil pode levar os que apoiam a comunidade LGBTI+ a se afastarem dos símbolos religiosos. Na perspectiva junguiana, esse afastamento é um problema, uma vez que traz prejuízo aos próprios indivíduos. O artigo inicia com a análise de exemplos de religiões que proíbem relações entre pessoas do mesmo sexo. Posteriormente, são investigados os mitos e características psicológicas gerais da humanidade que fundamentam esses dogmas. Em seguida, descreve-se a relação da religião com certos mecanismos arcaicos de orientação psicológica. Conclui-se que quando imagens mitológicas, como o casal heterossexual divino, são interpretadas literalmente e não simbolicamente, formas diferentes de sexualidade podem ser desvalorizadas. Além disso, em diversas culturas, fenômenos naturais menos frequentes são considerados transgressões que exigem expiação. Nas religiões estudadas aqui, a homossexualidade foi incluída entre esses fenômenos, mesmo que isso não tenha acontecido em outras tradições. A soma das experiências religiosas que refletem a vivência da média, composta por maioria heterossexual, influencia os tabus sexuais da comunidade. Por fim, o artigo descreve o processo de individuação, uma forma de solucionar conflitos entre as características do indivíduo e os valores coletivos, possibilitando uma nova via de acesso aos símbolos das tradições religiosas, interpretando-os como símbolos da realização da própria individualidade.
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